sábado, 17 de março de 2012

14. Quero o meu Bernardo já...

Mudámos de poiso. Tivemos que começar tudo de novo.
Aprender um novo caminho. Ver como se chega mais depressa. Conhecer novas caras, novas "regras"...
Novos médicos, novos enfermeiros, novos hábitos...
A inquietação cresceu. O mau humor também.
Não sei como me podem aturar às vezes. Eu própria tenho vontade de sair de mim mesma e ir embora. Dizer ou deixar recado «Já não moro aqui e fui. Fui para muito longe. Não sei quando volto.»

Já está quase. Já falta pouco. Ou melhor, já falta menos.
Isto é praticamente tortura.
Cada vez tenho mais vontade de, pegar nele e sair a correr.
Aquelas bochechas cheias de tubos e adesivos dão tanta vontade de apertar e dar beijinhos.

Peço mais uma dose de paciência. Bem guarnecida. Por ele, vale a pena aturar médicos trocistas,  com excesso de personalidade, enfermeiras doidas, mal-entendidos, multas de estacionamento, horas sem dormir...

Olhando para trás, não pareces nada o miúdo de 880g, de cor avermelhada e de veludo, que esteve não sei quantos dias debaixo de uma luz azul. Umas mãos minúsculas e uns dedos compridos mas muito fininhos. Uma barriga a tremer da ventilação. 33 cm de gente (esticadinho). Sim, porque cabias na palma da mão.

Hoje estás quase um homem grande. As tuas mãos duplicaram de tamanho. Quase 47 cm ao todo... 2,5 kg. Uma saca de batatas.
Passaram longos quase quatro meses... Até parece que não custou nada. Até parece que foi ontem. Até parece...

Escrevi isto não sei bem quando... há um mês talvez...

Hoje, dia 18 de Março, medes bem à vontade 48 cm, 3,5 kg... e já pareces um bebé de termo.
Lindo. Como sempre. Como o pai (dizem!).
Desde de seja esperto como a mãe, pode ser lindo como o pai... (eu não me importo nada!).

Falta quase nada...
...um nada... onde cabe tanta coisa.
Cabe uma noite mal dormida, cabem mil perguntas, mil suposições, mil preparativos, as últimas compras... cabem uns saltinhos...
Cabe um enxoval acabadinho de fazer, exclusivo e personalizado. Cabe um quarto cheio de sonhos (e alguns papéis que nunca tiveram sítio). Cabe uma brutal dor de costas. E uma alegria que não se pode medir.


Um dia, talvez te consiga dizer o que te aconteceu, O que nos aconteceu. Um dia, talvez consiga explicar, por palavras ou não, aquilo que cabe num abraço meu.
Um dia, tenho a certeza que vais perceber sozinho.
"Gosto de ti até à Lua..."